segunda-feira, 28 de dezembro de 2015


Fotografia de Chema Madoz.

SOL PARA ANÔNIMOS

Minha infância está imersa no tempo das pequenas ilhas
dispersa entre constelações que impedem o tempo de passar
em um lugar onde toda a terra é coberta de pó
e as casas são do tamanho da solidão e da falta de juízo.

Voltar para a infância é um risco que eu evito
um método lento que utilizo quando quero enlouquecer
lá, me escondo sem culpa na ilusão do paraíso
e observo as ruas e os cachorros que desaparecem famintos.

Minha infância é a invenção de um ser que eu espio
um ser sem asas que não pode ser jovem nem antigo
um poema suspenso que nasce pendurado no espaço do abismo
entre o silêncio sem sentido das minhas noites mal dormidas
e  a descoberta perplexa da anatomia dos anjos
com seus gestos de espanto vegetativos
perdidos para sempre
nas coxas viciadas do caos.


4 comentários:

  1. Belo poema... imagético, introspectivo...
    "gestos de espanto vegetativos
    perdidos para sempre nas coxas viciadas do caos." Que desfecho!!!

    ResponderExcluir
  2. Poema criativo, diferente, surpreendente até. Você escreve sobre o Universo, o Tempo, a Terra. E se refere também a solidão, infância, gritos e canções. E ainda se reporta a abismos e silêncios.

    Ora, os temas que enunciei acima tocam a todo e qualquer ser humano, prendendo sua atenção e fazendo-o meditar, sonhar, descobrir-se, engrandecer-se. Tal é a missão da Poesia.

    ResponderExcluir
  3. Entretanto, falta algo neste poema. Talvez retomar sua escrita, torná-lo mais terno e eterno. Transfigurar suas imagens, escolher palavras que agradem a todos. Sei lá. (falei demais, não?)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Imagina, obrigada, tudo aqui está em processo, nada é definitivo...

      Excluir