segunda-feira, 14 de dezembro de 2015




    CALEUCHE

    Eu sinto inveja
    dessas jovens senhoras pálidas
    que tem as vulvas verdes e intactas.
    Meu corpo é um corisco irremediável
    jogado no chão de uma cela escura
    embalado pelo silêncio entrecortado
    da respiração ofegante das lobas.

    E eu me apaixono por tudo
    pelas biografias esquecidas
    de homens obscuros
    pelo sorriso ensanguentado
    do Menino Deus
    que agora
    é um menino morto.

    pelos membros coloridos e sujos
    estampados nos livros de anatomia.
    e pelos chacais ensanguentados
    que  deixam as mulheres nuas

    e espantam as moscas noturnas.

Um comentário:

  1. Li, respiração presa. Li de novo, idem.

    Grato por me permitir viajar contigo na tua noite, teus tormentos ferozes e felizes, teus gestos e atos feitos palavras - e palavras candentes, palpitantes, em chama. Chamas literárias.

    Desmanchaste as amarras da criatividade, tanto nas masmorras, nos calabouços sombrios, na companhia das feras ofegantes, quanto já no navio-fantasma, entre vinhos e poemas.

    Continuo ao pé de ti, guardando os portais da tua mensagem.

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