segunda-feira, 30 de novembro de 2015


RAYUELA

Eu te via surgindo rapidamente de dentro das minhas vísceras
Suas unhas plúmbeas escondidas entre as algas vermelhas dos meus cabelos
e um hálito de hortelã evaporando com o vapor barato dos azulejos

Noite de ventres alaranjados escorrendo entre meus dedos úmidos
Seu sexo estendido roxo como uma fruta madura na palma das minhas mãos.
Estações alternadas entre dias e noites cada vez mais quentes.
Um silêncio ventando manso pelo casaco roto pendurado no varal.

E eu te achava lindo fantasiado de marinheiro no carnaval de 76
listras azuis recortadas sobre um pedaço do mar encardido no tempo
tatuagens coloridas desenhadas sobre a pele morena dos nossos hematomas
suas mãos de pássaro desfazendo os nós apertados entre a fumaça dos meus pelos.

E nós saíamos desesperados pelas veredas e vielas do esquecimento
Onde Ofélias, Emílias e Diadorins seguiam vagarosas os passos dos nossos beijos
Escrevíamos poemas e brindávamos loucos em parques noturnos com estátuas lentas
Embriagados tirávamos nossos coturnos e desdobrávamos nossos sonhos
em   dedos deslocados com agilidade pela penugem dos meus seios.

Tempo das estrelas de onde a noite se precipita
Seu corpo retirado do tempo de dentro da minha lembrança
A valsa lenta dos corpos ressurgidos na cópula das nossas danças
Sua imagem de anjo negro guardada na memória de um guardanapo escuro.

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