SAPATINHOS
VERMELHOS
Dançaras, e era o que ela fazia. Dançava
calmamente até sentir seu sapato se transformar em um pesado coturno.
Vem
Natan, senta aqui que já é quase meia noite e eu estou cansada de tanto tédio,
as luzes de natal já enfeitam as ruas e finalmente posso calçar meus sapatos
vermelhos diante do espelho enferrujado, já é tempo de esquecer as notícias da
televisão, e enquanto a música toca
rodopiar surda às salivas e suores alcoólicos dos homens que trago colados
junto a meu rosto de batom apagado e que dançam em ritmos alternados, cada vez
mais ousados, rápidos e sombrios dentro de mim.
Vem Natan, e traz uma taça de vinho gelado
para a gente tomar entre os intervalos desse baile imaginário, descansa seus
pés determinados dentro dessa robusta bacia que eu coloquei no canto do salão e
me deixe contemplar essas tatuagens de mariposas azuladas e esses poemas alados que você tem nos
braços e que te mantém sempre longe do tumulto e da violência da multidão.
Vem e
me deixa contemplar a delicadeza das suas veias, tocá-las, há sangue nos meus
pés e esse sangue é da cor do sexo das mulheres na hora do parto, derrama vinho
sobre eles, o vinho é a bebida do esquecimento e é preciso sempre esquecer
Natan, das tâmaras que colhíamos dos nossos ventres, dos nossos passeios
observando os gatos pelos telhados, do esforço do cavalo para ser cão, é preciso
distinguir o verossímil do inventado e dormir com mil marinheiros para conseguir arrancar a poesia da lama que escorre no chão.
Chegou o tempo das maçãs envernizadas, das intermináveis filas dos mercados, de recolher as folhas secas das ruas, chegou o tempo, aperta meus pés inchados para que eles voltem a se mexer pelo salão, passa a língua em câmera lenta pelos degraus das minhas vértebras e enquanto o silêncio ainda arranha o tédio dos corrimões e vamos nos trancar nus como os capricórnios dentro dos nossos calabouços para observarmos a manhã nascer delicada enquanto o mundo termina ao som de um romanceiro gitano repleto de fúria: tire meus sapatos vermelhos e apague a luz Natan, pegue seu bandolim e venha ver as constelações.
Chegou o tempo das maçãs envernizadas, das intermináveis filas dos mercados, de recolher as folhas secas das ruas, chegou o tempo, aperta meus pés inchados para que eles voltem a se mexer pelo salão, passa a língua em câmera lenta pelos degraus das minhas vértebras e enquanto o silêncio ainda arranha o tédio dos corrimões e vamos nos trancar nus como os capricórnios dentro dos nossos calabouços para observarmos a manhã nascer delicada enquanto o mundo termina ao som de um romanceiro gitano repleto de fúria: tire meus sapatos vermelhos e apague a luz Natan, pegue seu bandolim e venha ver as constelações.
Eu me calo quando te leio... É muito visceral sua escrita!
ResponderExcluirVanessa, o Rubens jardim me enviou uns poemas seus que adorei. Susto gostoso ter encontrado tuas palavras. Ficarei de olho na magia de teu blog. Como posso saber mais sobre a Escola Livre de Literatura de Santo André? Sem esquecer: para que endereço postal posso encaminhar o meu livro ESPÓLIO? Abraço enorme do, Rubervam Du Nascimento
ResponderExcluirOi Rubervan, não sei se recebeu minha resposta anterior, desculpe a demora, sou atrapalhada com o tempo. Te enviei um convite no face, gostaria de receber seu livro. ABraços.
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