quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estudo sobre o gozo

Gustav Klimt



 I

Cravar uma faca no crânio
para arrancar do ânus
gerânios amarelos
 
Cravar uma faca no ânus
Para tingir de vermelho
gerânios amarelos


Arrancar de dentro das cabeças
e plantar em inexistentes bucetas
cabelos  ensanguentados
que já foram
gerânios amarelos
 

II 


Mergulhar na sua pele noturna
para procurar  entre os nós do seu corpo
minúsculas cicatrizes e veias
que a natureza
se encarregou de apagar

 
beber do seu sêmen amargo
derramado dentro do arco
 do meu céu sombrio


para fazer emergir das entranhas
a umidade alucinada do desejo
percorrido pelo dedos humanos
de uma fêmea que segura um cigarro
aceso em eterno cio
 

III


Buscar entre seus dentes lúcidos
 substâncias líquidas
dispersas
pelas vielas obscuras
 das veias lubrificadas
pelas nuvens reticentes
 do amor

 
 Ressuscitar o sacrosilêncio
que  leva ao epicentro
circular
de ti

 
Esquartejar o pedaço do tempo
que reencontraste espantada
 na fresta ajoelhada
de um amor infantil

 
  contar os coágulos perdidos
no recôncavo fragilizado
pela memória da dor

 
decifrar
  na colisão das epidermes 
o gato enrolado
que trazemos cifrado
entre a planta dos  pés
e a  nuca febril.

 

IV

 
Traduzir sua língua imperfeita
que parte  desterrada  
movida pela diáspora
dos nossos quadris

 
Mensurar com um polígrafo
a distância que separa
sua pélvis
da lua

 
 Reinventar o fruto proibido
oferecido por um anjo decaído
que furtivo
transformou-nos em carne
quando explodiu o paraíso.

 
EU
Sou do mês de janeiro
a morte me habita
nasci da tempestade
começo pelo fim


Eu sou filha de Saturno
e lavo as impurezas lilases
das carnes lubrificadas
que restaram pelo caminho

 
Eu sou filha do tempo
 carrego um escudo por dentro
atravesso insensível os campos
germino em corpos noturnos.

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