Gustav Klimt
I
Cravar uma faca no crânio
para arrancar do ânus
gerânios amarelos
Cravar uma faca no ânus
Para tingir de vermelho
gerânios amarelos
Arrancar de dentro das cabeças
Arrancar de dentro das cabeças
e plantar em inexistentes bucetas
cabelos ensanguentados
que já foram
gerânios amarelos
II
Mergulhar na sua pele noturna
para procurar entre os nós do seu corpo
minúsculas cicatrizes e veias
que a natureza
se encarregou de apagar
derramado dentro do arco
do meu céu sombrio
para fazer emergir das entranhas
para fazer emergir das entranhas
a umidade alucinada do desejo
percorrido pelo dedos humanos
de uma fêmea que segura um cigarro
aceso em eterno cio
III
Buscar entre seus dentes lúcidos
substâncias
líquidas
dispersas
pelas vielas obscuras
das veias
lubrificadas
pelas nuvens reticentes
do amor
que leva ao
epicentro
circular
de ti
Esquartejar o pedaço do tempo
que reencontraste espantada
na fresta
ajoelhada
de um amor infantil
contar os
coágulos perdidos
no recôncavo fragilizado
pela memória da dor
decifrar
na colisão das
epidermes
o gato enrolado
que trazemos cifrado
entre a planta dos
pés
e a nuca febril.
IV
Traduzir sua língua imperfeita
que parte desterrada
movida pela diáspora
dos nossos quadris
Mensurar com um polígrafo
a distância que separa
sua pélvis
da lua
oferecido por um anjo decaído
que furtivo
transformou-nos em carne
quando explodiu o paraíso.
EU
Sou do mês de janeiro
a morte me habita
nasci da tempestade
começo pelo fim
Eu sou filha de Saturno
Eu sou filha de Saturno
e lavo as impurezas lilases
das carnes lubrificadas
que restaram pelo caminho
Eu sou filha do tempo
carrego um escudo
por dentro
atravesso insensível os campos
germino em corpos noturnos.
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